História do Shiatsu
A história do Shiatsu, exige um olhar sobre as técnicas utilizadas na antiga China, local onde nasceram os princípios básicos da medicina oriental. A medicina oriental desde sempre formulou princípios em relação a tudo o que nos rodeia, como é o caso da cultura, arte e da filosofia, sendo estes aceites como universais. Esta forma de pensar passou também para o campo da medicina oriental.
Existem legados acerca da acupunctura que datam de 2500 a.C., mas o tratado mais antigo é o Nei Ching – O Livro do Imperador Amarelo sobre Medicina (Huang Ti Nei Ching Su Wen, nome original), escrito pelo Huang Ti. Esta obra tem um valor enorme para a medicina oriental sendo actualmente utilizado como recurso corrente da medicina oriental.
O Nei Ching apresenta os factores geográficos como estando ligados às patologias apresentadas pelos indivíduos. A medicina oriental apresentava assim dois ramos distintos: o setentrional e a meridional.
O ramo setentrional englobava a bacia do rio Amarelo, onde a vegetação era escassa e o clima frio, onde os tratamentos aplicados envolviam a acupunctura, a moxibustão e a massagem. Já no ramo meridional, temos a região do rio Iangtsé, onde o clima era quente e a vegetação mais predominante assim como uma maior variedade de vida vegetal, estando os tratamentos mais ligados a uma componente herbácea.
Nesta obra a massagem é abordada como sendo o tratamento preferencial do povo da região central da China, visto o seu trabalho não envolver muito esforço nem muito trabalho muscular.
Desta forma, a massagem começa por ser reconhecida como uma das quatro formas clássicas de tratamento médico, juntamente com a acupunctura, a moxibustão e a fitoterapia.
Este tipo de massagem era conhecido como Anma, envolvendo técnicas de fricção e pressão nos locais rígidos do corpo. Contudo, foram precisos muitos anos para se descobrir os pontos eficazes nos tratamentos das diversas patologias.
Mas, com o decorrer dos tempos a massagem Anma foi perdendo o seu valor talvez pelo facto de ser transmitida oralmente, fazendo com que esta técnica fosse tomando um segundo plano na medicina oriental.
Foi com Tokujiro Namikoshi que o Shiatsu teve o seu reconhecimento.
Com sete anos Namikoshi tratou com fricções e compressões a Mãe, que sofria de artrite. Mais tarde desenvolveu a sua técnica e em 1925 fundou o Instituto de Terapia Shiatsu, em Hokaido.
Embora o seu contributo, só em 1955 é que o Shiatsu foi aprovado por lei como fazendo parte da massagem Anma.
Mas a implementação do Shiatsu não ficou por aqui, tendo sido no ano de 1964 que esta técnica foi acreditada como uma técnica independente da Anma e da massagem ocidental.
Shiatsu
Shiatsu é uma palavra japonesa composta de dois caracteres (指圧), onde “shi”significa dedo e “atsu” pressão.
Segundo o Ministério de Saúde Japonês:
A terapia Shiatsu refere-se ao uso dos dedos e palma de uma mão para aplicar pressão numa ou mais zonas corporais com o intuito de corrigir o equilíbrio corporal, mantendo e promovendo a saúde. Também é um método que contribui para o tratamento de doenças específicas.
( In: “The Theory and Practice of Shiatsu” publicado pelo Ministério da Saúde do Japão em 1957)
O Shiatsu é visto muitas vezes como a fisioterapia japonesa.
Mas esta terapia tem bases sólidas para a sua resposta terapêutica, pois o tratamento envolve a manipulação do fluxo de energia (Ki) que circula no nosso corpo através de canais ou meridianos.
Ki na medicina oriental tradicional é “uma força de vida” ou “a energia vida” que forma a nossa estrutura física e regula a estabilidade emocional, mental e espiritual.
O fluxo do Ki pode ser perturbado através de vários factores como um trauma externo, tal como um ferimento, ou o trauma interno como a depressão ou o stress.
Através do toque, essencial nesta terapia, a energia vital é regulada fazendo com que o bem-estar físico e psicológico volte ao indivíduo.
Correntes de Shiatsu
Podemos apontar três correntes essênciais de Shiatsu:
- Shiatsu Namikoshi
- Zen Shiatsu
- Shiatsu Serizawa
A base destas correntes essenciais é a mesma, a primeira forma de Shiatsu legislada pelo Ministério de Saúde Japonês, o Shiatsu de Namikoshi. Posteriormente através de estudos outras correntes surgiram dando mais atenção a diferentes técnicas de tratamento corporal.
Basicamente, Namikoshi mostra ser necessário um conhecimento profundo dos sistemas muscular, nervoso, endócrino e da estrutura óssea, sendo este tipo de Shiatsu mais ligado a um bom aquecimento, à pressão e à elaboração de alguns alongamentos.
O Zen Shiatsu foi desenvolvido por Shizuto Masunaga, envolvendo a meditação e o trabalho através de estiramentos e pressão ao longo dos meridianos.
O Shiatsu de Serizawa, trabalha unicamente pontos de pressão, sendo por vezes intitulado de acupunctura digital. Este tipo de Shiatsu, concentra-se predominantemente nas potencialidades terapêuticas dos pontos e pode envolver várias terapias como a massagem, compressão, acupunctura, moxibustão, de entre outros.
Yin e Yang
Tudo começou com o Tao, origem de todos os fenómenos. O Tao manifesta-se como a energia vital, ou Ki.
Ki está presente em todas as coisas, sem um princípio ou um fim. Tudo é Ki, assim como Ki é tudo. Na cultura oriental, tudo aquilo que podemos imaginar é uma manifestação do Ki (espírito, pensamento, amor, pedra, terra, metal, etc), podendo assumir várias formas e fases de materialização.
Ki diferenciou-se em duas forças: Yin e Yang.
Segundo os orientais, Yin era mais condensado e material, acabando por formar a Terra, ao passo que Yang era mais imaterial e vasto acabando por formar o Céu. Yin e Yang acabam por representar uma teoria que explica todos os fenómenos existentes.
Estas duas forças embora opostas complementam-se entre si, basta ver-mos o símbolo Yin e Yang, mas embora opostas não podem existir uma sem a outra, por exemplo não há calor sem frio.
Esta dinâmica mostra-se bastante flexível visto complementar-se entre si. Assim, embora algo seja predominantemente Yin não quer dizer que não possa ser alterado (exemplo: água que se torna em vapor). Como tal, temos uma serie de características associadas a esta teoria:
Yang |
Yin
|
Dia | Noite |
Calor | Frio |
Verão | Inverno |
Seco | Húmido |
Ascendente | Descendente |
Ativo | Passivo |
Exterior | Interior |
Céu | Terra |
Masculino | Feminino |
Imaterial | Material |
Ao nível de medicina, Yin e Yang são o princípio fundamental ligado ao diagnóstico da manifestação de Ki, contribuindo ainda para descrever a natureza e a localização da patologia.
Assim sendo, no nosso corpo Yin e Yang assumem a seguinte localização e/ou características:
Yang |
Yin
|
Costas | Frente |
Face exterior dos membros | Face interior dos membros |
Superfície | Profundidade |
Parte superior do corpo | Parte inferior do corpo |
Extroversão | Introversão |
Mais físico | Mais intelecto |
Lado esquerdo | Lado direito |
Agudo | Crónico |
Todas as pessoas têm uma constituição que se identifica mais como sendo Yin ou Yang, todavia a predominância que se acentua mais no corpo ou na mente acaba por conduzir a um desequilíbrio, revelando sintomas mais Yin ou mais Yang.
Yang |
Yin
|
Stress | Cansaço |
Tensão | Letargia |
Super-actividade | Sensação de estar “drogado” |
Febres | Desanimo |
Energia bloqueada | Energia bloqueada |
Os Cinco Elementos
Como já foi referido, as manifestações da energia Ki assumem muitas formas, caracterizando-se por estádios intermédios dessa mesma manifestação.
Essa manifestação assume como que a forma de um ciclo, onde temos representado os cinco elementos:
- Água,
- Madeira,
- Fogo,
- Terra,
- Metal.
A teoria dos cinco elementos vai buscar a sua base à observação dos ciclos da natureza, assim como dos fenómenos que interagem nesta.
Temos assim, Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal.
Esta teoria envolve duas componentes, uma encontra-se relacionada com o agrupamento de fenómenos (correspondência), a outra com o fluxo de energia entre os elementos, com sequências estabelecidas (ciclos).
Cada elemento possui desta forma características, propriedades e qualidades distintas.
O ciclo começa em Água. Aqui Yang transforma-se em Yin, temos o tempo tranquilo e o frio do Inverno. Este elemento caracteriza-se como a espera, a serenidade, o armazenamento.
A energia Madeira, mostra a ascensão, a expansão, o crescimento que expressa a Primavera, quando a própria natureza começa a despertar do Inverno.
Em Fogo a expansão atinge o seu máximo, o seu pico de crescimento, difundindo-se em todas as direcções, é o máximo de Yin. Temos a manifestação do Verão.
A Terra representa o elemento central e equilibrador da energia, temos a fase contractiva do ciclo. Encontra-se associada ao fim do Verão, é a mudança para o seguinte (Verão Tardio).
Metal é o movimento consolidador, este representa o recolhimento da energia no interior das árvores, é o Outono.
As correspondências dos elementos envolvem fenómenos que de certa forma apresentam propriedades energéticas semelhantes.
Elemento |
Água
|
Madeira | Fogo | Terra | Metal |
Estação | Inverno | Primavera | Verão | Verão Tardio | Outono |
Processo | armazenamento | nascimento | crescimento | transformação | colheita |
Clima | frio | vento | calor | humidade | secura |
No entanto, quando adaptamos esta teoria ao corpo, mente e espírito humanos, podemos localizar o local, ou locais, onde Ki está desequilibrado assim como os motivos que levaram a esse desequilíbrio.
Elemento
|
Água
|
Madeira | Fogo | Terra | Metal |
Órgão Yin
|
Rins | Fígado |
Coração Pericárdio |
Baço | Pulmões |
Órgão Yang | Bexiga | Vesícula Biliar |
Intestino Delgado Triplo Aquecedor |
Pâncreas | Intestino Grosso |
Tecido | Bexiga | Músculos |
Intestino Delgado Triplo Aquecedor |
Carne | Pele |
A outra componente desta teoria encontra-se relacionada com a descrição do fluxo de energia, onde temos o ciclo criador e o ciclo controlador. No ciclo criador, cada elemento dá origem a outro: Água origina a Madeira, Madeira origina o Fogo e assim sucessivamente, ao passo que o ciclo controlador representa a maneira como os elementos se limitam entre si, podendo impedir o processo de crescimento. Assim: a Água apaga o Fogo, o Fogo derrete o Metal, o Metal corta a Madeira, a Madeira estabiliza a Terra, a Terra contém Água.
Os meridianos representam canais de energia que temos no nosso corpo e que o percorrem na sua totalidade. Estes formam um conjunto de “linhas” que permitem a passagem de diferentes tipos de energia Ki no nosso corpo.
A cada meridiano temos um órgão associado, exemplo meridiano do Pulmão, meridiano do Coração. Contudo, o meridiano não se encontra relacionado unicamente com o órgão em si mas também com a função que este desempenha a nível energético.
O trajecto dos meridianos tem sido alvo de estudo ao longo dos anos podendo actualmente ser medido com instrumentos electrónicos.
Existem doze meridianos que passam dos dois lados do corpo humano e dois canais centrais.
Os meridianos estão classificados em pares Yin e Yang, por Elementos e ainda por função.
Se observarmos uma pessoa de pé com os braços esticados para cima, os meridianos Yang advêm do “Grande Yang”, o Céu, pela parte posterior (costas) e faces exteriores do corpo, manifestando um movimento descendente. Os meridianos Yin correm do “Grande Yin”, a Terra, pela parte anterior e interior dos membros, num movimento ascendente.
Consequentemente, cada Elemento tem uma propriedade energética que regula uma função. Essa função está relacionada com meridianos que apresentam uma componente Yin e Yang.
Posteriormente, iremos verificar e falar dos desequilíbrios que podem ocorrer nos diferentes meridianos, provocando patologias ou mal-estar.
Texto elaborado segundo o "Manual do Curso de Shiatsu" de Carolina Mendão e cedido por:
Sandra Oliveira e Sousa
Terapeuta de Shiatsu - Portugal
copiado de Harmoniza.com